22/02/2012

ANIVERSÁRIO

Se eu tivesse coragem suficiente,
para mostrar ao mundo quem sou,
não pensaria na dor de dente,
que em meu ciso agora pousou.

Se eu fosse talvez mais covarde,
do que hoje talvez já eu sou,
não fosse talvez menos homem,
da voz em que meu eco ecoou.

Se a roupa dos panos que visto,
servissem pra cobrir quem escondo,
não teria me avistado eu nú,
homem-besta vazio de sentidos.

Se eu sentisse talvez pouco ou muito,
as sutilezas deste mistério profundo,
talvez desejasse sincero e pudesse talvez ficar perto,
deste oco que me trouxe no mundo.

Trinta e três anos de vida,
agruras da lida e da dor,
mas também fé e alegria,
em algum canto ela está e, eu estou.

Respiro este ar poluído,
porque dele também parte faço,
em minhas tripas me agarro e vomito,
o que ontem eu era e hoje sou.

Homem de máquina grito,
o silêncio de um homem robô,
assombro, pavor, calafrio,
é apenas ausência do amor.

E se hoje eu clamo às estrelas,
é porque nelas eu vejo a luz,
mortas à espera do caos,
daquilo que um dia eu já fui.

Muro de escombros pesados,
que já pesaram toneladas demais,
não sei como comigo lhe trago,
até não poder nunca mais.

Melhor esquecer do passado...
mas como se dentro ele vive,
se dói, se corrói, carcomido
maldito em minha dor de dente?

(Daniel Palacios)

2 comentários:

  1. "Trinta e três anos de vida"
    Assumo meus medos, faço magias
    Mas vida, diga algo...
    Não tire de mim a poesia.

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    Respostas
    1. medos, mortes, magias
      e a vida que corre no fio
      leito de água de rio
      "não tire de mim a poesia"

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