27/02/2013

COMO MORDER TUAS MAÇÃS?















Como beber ilusões com a boca das memórias?
como caminhar com as sobras pelas ruas dos excessos?
como seguir sem flutuar, sem ressoar as chamas?
como cogitar alimentar as vidas do depois
se é no hoje que vive a minha fome, como insetos
cheirando as tangerinas e as framboesas?

Desapareço nos tecidos das buzinas e das coleiras
sombras agudas enrugam as esperanças
mas acontece que não sou de vinganças
meu peito compõe esculturas em terrenos baldios
vou morrendo nos rios dos sentimentos tardios.

Como desfilar tremeluzindo essa vida?
como atravessar as pontes escuras?
como morder tuas maçãs, criatura
se sou traço e círculo ventante
se sou esse ser tão minguante
tão errante?

Como foi que desaprendi?
como foi, se ainda escrevo esse poema
e se por baixo do vestido as pernas estão trêmulas
neste entardecer que não era de palavras?
como, se nada mais restava?

(Flávia Soufer)

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